sexta-feira, março 17, 2006

DE OLHOS BEM FECHADOS

Hoje, ao passar no blog do Tetracloro, vi algo sobre KUBRICK, e logo me recordei deste filme que vi, já há alguns anos.

De Olhos Bem Fechados/Eyes Wide Shut Realizado por Stanley Kubrick
EUA/Reino Unido, 1999 Cor - 159 min.
Com: Tom Cruise, Nicole Kidman, Sydney Pollack, Marie Richardson, Rade Serbedzija, Todd Field, Vinessa Shaw, Alan Cumming, Sky Dumont.




William Hartford (Cruise) é um médico de Nova Iorque atormentado por visões da sua mulher, Alice (Kidman), a traí-lo com a imagem de um homem com quem ele se arrependeu de não ter tido uma relação extra-marital.
Hartford vagueia pela cidade, à noite, com um desejo de transgredir (também ele) os votos matrimoniais e as certezas de uma relação aparentemente condenada à rotina e à aceitação passiva do estado das coisas. As oportunidades vão manifestar-se com a filha de um falecido amigo, prostitutas, mas principalmente no cenário de uma secreta, exclusiva e refinada sociedade secreta.
«Eyes Wide Shut» estreou infelizmente, 6 meses depois da morte de Stanley Kubrick. Muito secretismo circundou a rodagem deste filme, que se prolongaria durante dois anos, depois de várias datas de estreia apontadas, e muito se especulou sobre o que exactamente seria o cerne de um dos mais aguardados filmes de sempre. Referiu-se inclusive que teríamos Cruise e Kidman como dois psiquiatras, dedicados a experiências sexuais com os seus pacientes.
Por pressões de grupos religiosos Hindus, a versão britânica está também alterada, e igualmente durante a sequência da orgia. Os referidos grupos sentiram-se ofendidos com a recitação do seu livro sagrado, o Bhagavad Gita, durante as cenas de sexo. A Warner Bros., admitindo grandes prejuízos, cedeu efectuar as alterações necessárias, ao invés de sugerir que a população Hindu não visse o filme. Felizmente há muitos Católicos e Protestantes (só é grave ofender minorias)...
Para quem ainda não se aborreceu com aspectos secundários da exibição de um filme, cumpre agora expor a sua respectiva apreciação. É sempre difícil comentar a obra de um realizador como Kubrick, um dos mais consagrados cineastas modernos, e será fácil de constatar um certo fundamentalismo perante opiniões negativas. "Quem são vocês para criticar um filme do Mestre Kubrick?

Pois «Eyes Wide Shut» não é propriamente uma obra-prima. Um dos filmes com a mais interessante fotografia dos últimos tempos, inegavelmente. Os planos são cuidadosamente compostos, e usa-se, em grande parte, iluminação natural e filme com uma sensibilidade adequada. A narrativa está construída de modo a que o espectador confunda a realidade com o sonho ou com visões, ou que pelo menos seja levado a questionar a realidade do que lhe é apresentado. O que impulsiona Hartford a vogar pelas ruas à procura de uma experiência sexual fora do "normal", reduz-se ao desejo da sua mulher ter tido um caso, que não teve e provavelmente não teria, com outro homem. A imagem, do que não aconteceu, desse mero desejo, forma-se na sua mente e ele sente-o não só como uma traição, mas como uma crítica ao seu modo de ver a relação como algo seguro. Não é só ciúme o que move Hartford, mas também o fascínio por possibilidades de satisfação que até então não havia sequer considerado.
O percurso do médico podia ser descrito, numa sessão de psicanálise, como uma sequência de sonhos sobre incapacidade de concretização. Uma série de potenciais parceiros sexuais entram em cena, mas parecem sempre sair por razões inexplicáveis. «Eyes Wide Shut» foi inspirado num livro de Arthur Schnitzler, próximo de Sigmund Freud, e, segundo se diz, é-lhe bastante fiel, para além da inserção de um par de cenas e do personagem de Pollack, adicionando explicações tidas necessárias no encerrar do círculo exploratório do personagem central.
Quanto ao desenrolar do Sonho, tudo não parece senão coerente e natural. Existe material para dois filmes; o "drama" do casal insatisfeito com a relação, com base na monotonia sexual, por um lado, e o "thriller psico-sexual", centrado no médico respeitável que se envolve com uma obscura sociedade secreta, integrando as mais altas personalidades do país, com o risco da própria vida. Kubrick, sem dúvida, optou pelos conflitos internos dos personagens, afirmando aquela relação como o mais importante e a razão de ser do filme, com as suas excessivas duas horas e 40 minutos.«Eyes Wide Shut» é um objecto duplamente raro que merece ser visto em sala: é um filme "artístico" custeado por uma "major" americana e é um Kubrick.

13 Comments:

At 18/3/06 01:43, Blogger Ana said...

Os teus posts sobre cinema são sempre motivantes. Mais um filme que tenho pena de não ter visto.
Um beijo, Kalinka, e que o sorriso tenha voltado ao teu rosto.

 
At 18/3/06 05:12, Anonymous Anónimo said...

Prima nem sei o k te dizer. Quando entrei aqui e ouvi a música que tens as lágrimas começaram involutariamente a correr e a minha mente bloqueou. Desde criança que sempre que oiço esta música lembro-me do meu pai. Sabes que eu antigamente faria tudo por ele. Mas mudando de assunto, quanto ao meu post dos medicamentos, até pode ser que a furosemina seja bom para o inchaço que tens, mas em contrapartida pode fazer mal noutros aspectos. Como por exemplo o café, é optimo para a tensão baixa, mas pessimo para o sistema nervoso. Existem sempre contra-indicações.
O Filme que nos divulgas realmente é um filme espectacular. Já o vi e adorei. A história está muito bem contada. Desculpa não escrever. Beijos. Vo tentar voltar mais vezes.

 
At 18/3/06 20:41, Blogger LUIS MILHANO (Lumife) said...

Já te candidaste ao lugar de crítica da sétima arte para uma revista ou jornal?
Escreves bem e entusiasmas os leitores com as tuas apreciações.

Bom fim de semana

beijos

 
At 18/3/06 21:15, Blogger Kalinka said...

ANA
Muito obrigada pelo elogio, eu muitas vezes penso que estou na profissão errada, podes crer, estou a falar a sério, gostaria muito mais de trabalhar nesta área de crítica de cinema ou, como tu sabes, eu adoro fotografia...e, não trabalho em nada disso...enfim.
Vou fazendo disso um hobby, já não é mau.
O sorriso está voltando lentamente ao meu rosto, sim, devagarinho, lá chegarei. O meu problema não é só esse, mas outros de índole física.
Bom fim de semana e beijokas doces

 
At 18/3/06 21:17, Blogger Kalinka said...

ANDREIA RAMOS:
Muito obrigada pela visita.
Se gostaste do que viste, podes voltar sempre que queiras, ficarei feliz.
Sim, aproveita a tua folga e vê o filme, vale a pena.
Obrigada por me linkares.
Bom fim de semana e beijokas.

 
At 18/3/06 21:26, Blogger Kalinka said...

Também te peço desculpa porque ando ausente do teu blog, e de muitos outros e mails, nem pensar...enfim!mas já deves saber que tenho estado doente, há 15 dias em casa e as melhoras não são quase nenhumas, isto desespera-me, acreditas? Os médicos não sabem o motivo do meu problema de saúde e uma pessoa fica mesmo «perdida» pois se eles k estudaram não sabem, quem vai saber? é muito complicado...uma depressão profunda
Beijokas. Vou-te visitar.

 
At 18/3/06 23:23, Blogger Amaral said...

Estou ainda sonhando com o sonho que tive ontem. Não era um filme nem uma peça de teatro, era o "dia perfeito para uma mulher". E eu era essa mulher!... Como ainda não acordei, mas não sei em que fase estou do sonho, deu tempo para "de olhos bem fechados" dizer que vi o filme, mas não gostei. Talvez por ter criado uma expectativa algo elevada e os dois artistas serem quem são... Gostei, sim, e muito, do que escreveste sobre o filme que me fez "revê-lo" do princípio ao fim... Desculpa, porque tenho que voltar para o sonho...

 
At 19/3/06 00:16, Blogger lena said...

outra bela critica Kalinha, és excelente a escrever

lembro-me de ver o filme. Que bem o consegues narrar

beijinhos doce amiga, vem aí sol, quero de novo ver-te a sorrir

lena

 
At 19/3/06 01:06, Blogger Caracolinha said...

Querida amiga Kalinka .... ora aqui está um que nunca vi ... mas depois deste teu magnífico post parece que já assisti a tudo !!!!

Adorei o teu comentário lá na casquinha .... que giro a tua neta adorar pinguins ... uma beijoca encaracolada para ela e outra para ti minha querida !!!!

:))))

 
At 19/3/06 04:32, Blogger Luís Monteiro da Cunha said...

Olá querida Kalinka..
Vejo-te inspirada na cinemateca, ainda bem e este que trazes...
Lamento, se vi não recordo... mas penso que não, porque parece que tem pimentinha que chegue para ser lembrado por muito tempo...lol

Desejo-te bom domingo e...
trata-me por tu, que isto do você não se usa entre amigos... tá?!

Beijinhos

 
At 19/3/06 23:04, Blogger Diafragma said...

Nao percebo nada de cinema, sou um mero espectador. Para mim os filmes do Kubrik sempre foram uma referência, mas este sinceramente desiludiu-me um pouco. Depois de obras como um The Shining este soube-me a pouco.

 
At 20/3/06 11:41, Anonymous Anónimo said...

Não vi o filme, mas com esta descrição é como se o tivesse visto!È sempre um prazer ler os teus posts.
Bjs.
Ju

 
At 20/3/06 20:50, Anonymous Anónimo said...

O filme é bastante interessante, por todas as razões e mais uma. Trata-se tambem de uma visão realista camuflada dos jogos de interesse e chantagem politica/social dentro da propria comunidade cinematografica. Existe mesmo que teorize que se trata, em alguns momentos, de algo autobiografico do realizador. E a comunidade secreta é uma das mais influentes e que já vimos romanceada por aí: os Illuminati[ penso ser assim que se escreve], que agrega altas individualidades mundiais, com ligações maçonicas e ao Priorado do Siao. Interessante mais pelo que não diz, este filme. Boa escolha. Bjs

 

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