terça-feira, janeiro 24, 2006

A ROTA DA VIDA


- Desculpe, sabe-me dizer qual é o caminho para a Felicidade?
- Ora essa! Claro que sim! Está a ver este caminho? É sempre em frente! Não tem nada que enganar!
E assim me pus a caminho. A viagem era longa. A pequena estrada seguia até se perder de vista. A paisagem era quase desértica, alguma vegetação rasteira aqui e ali, uns pequenos montes ao fundo. E caminhos, centenas de caminhos como aquele que eu seguia. Alguns quase paralelos ao meu, que só no horizonte se desviavam, muitos deles que se cruzavam no meu caminho e continuavam em linha recta. De vez em quando ouvia vozes e avistava alguém. Eram pessoas em caminhos diferentes do meu. As perguntas que faziam eram todas iguais, e as respostas eram sempre as mesmas:
"É sempre em frente! Não tem nada que enganar!"
E lá seguiam eles os seus caminhos. Às vezes cruzávamo-nos e ficávamos a conversar. Grandes coisas aprendi nessas conversas. Foi numa delas que entendi a preocupação de um homem que construía um barco à beira-mar em vez de seguir o seu caminho como todos os outros. Era o caminho dele que, seguindo em linha recta, chegava à praia e continuava mar fora. Ao saber que o homem tinha de construir o barco simplesmente para seguir o seu caminho e encontrar a sua Felicidade, compreendi que o caminho para a Felicidade não estava isento de dificuldades.
Foi a pensar nisso que, em certo ponto da minha viagem, avistei uma montanha à minha frente no horizonte. Não sendo mais que um pequeno monte a princípio, rapidamente se tornou grande e majestosa. Parecia excessivamente cónica, poucos caminhos passavam por ela, como se ela tivesse sido lá posta especialmente para mim.
Uma pequena área branca de neve distinguia-se no topo.
Era alta e íngreme, e estava mesmo no meio do meu caminho. Ao chegar à base da montanha, vi algo que nunca tinha visto antes. O meu caminho, que subia até ao topo da montanha, cruzava-se com outro que estranhamente não era em linha recta, mas antes contornava a base da montanha em todo o seu perímetro. Era claramente uma alternativa ao meu caminho: podia facilmente seguir pelo caminho alternativo e voltar a encontrar o meu caminho do outro lado. O caminho era seguramente mais fácil, mas isso não me impedia de sentir algum receio em relação a ele. A minha preocupação aumentava à medida que a montanha crescia à minha frente.
No cruzamento dos dois caminhos parei e deixei o tempo passar. Era facto indiscutível que, embora toda a gente soubesse que o caminho para a Felicidade seguisse em linha recta, ninguém sabia quando ele chegava ao fim. A Felicidade só se encontrava quando se estava lá. Podia ser em qualquer lado: no deserto, no meio do mar, numa gruta subterrânea, no topo de uma montanha. Olhei bem para ela: era mais alta e mais íngreme do que eu alguma vez tinha imaginado. Pouco tempo antes, quando subira um pouco para a testar, tinha caído redondamente no chão, exactamente no meio do cruzamento. Por outro lado, arriscava-me a perder-me da Felicidade para sempre e a viver com os remorsos disso se fosse pelo caminho alternativo. O dilema assombrava o meu cérebro e parecia não dar sinais de acabar. Foi ainda a medo que, muito mais tarde, tomei a decisão. Olhei com pena para o caminho que deixava para trás, levantei-me e pus-me a andar. Mais tarde, quando começava a descer com o topo da montanha atrás de mim, encontrei, exactamente na outra junção dos dois caminhos, uma pequena mas agradável aldeia.
E sorri com satisfação.

17 Comments:

At 25/1/06 00:04, Blogger Diafragma said...

Um verdadeiro conto Zen.
Gostei.

 
At 25/1/06 00:31, Blogger lena said...

gostei de ler, sabes o que digo sobre a felicidade:

a felicidade mora ao nosso lado, nós estamos no meio, é preciso saber abrir a porta certa, que ela nos deixa entrar

mas foi um conto interessante, o teu blog prima por ser assim, diversificado

é bom passar por cá

beijinhos, muitos para ti

lena

 
At 25/1/06 08:00, Blogger Pitucha said...

Gostei muito! E agora, sigamos em frente.
Beijos

 
At 25/1/06 10:17, Blogger Isabel Filipe said...

..que lindo texto...que nos deixa a pensar...

gostei de ler..

bj

 
At 25/1/06 12:56, Blogger peciscas said...

São difíceis, enigmático e sinuosos os caminhos que levam à felicidade. Por isso tantas vezes neles nos perdemos.

 
At 25/1/06 14:15, Blogger Mocho Falante said...

o caminho da felicidade nem sempre é fácil, mas tipicamente todos nós volta e meia insistimos em torna-lo ainda mais complicado

beijocas

 
At 25/1/06 18:14, Blogger Tânia said...

A felicidade é uma escolha...

 
At 25/1/06 22:19, Blogger A .Carlos said...

ola Kalinka,
o caminho da felicidade, passa por uma busca dentro de Nós.
ás vezes complicamos outras descomplicamos...é um caminho por percorrer sempre!
bjs
:)

 
At 27/1/06 03:01, Blogger Ana said...

Cada um de nós tem um caminho a percorrer. Em linha recta ou sinuoso, cabe-nos decidir. O que importa é prosseguir por difícil que pareça.
Um beijo para ti, Kalinka.

 
At 27/1/06 22:02, Anonymous Anónimo said...

Não há nada mais difícil do que classificar a felicidade. O que é para um, pode ser o oposto para o outro. Passamos a vida infelizes à procura da felicidade. Seriamos muito mais felizes se seguissemos a estrada que fica à nossa frente.
Bom fim de semana.

 
At 27/1/06 23:25, Blogger Patrícia Posse said...

Quantos caminhos alternativos se nos oferecem n caminhada quotidiana para a felicidade?
Quantos dilemas nos perseguem perante a indecisão de segui-los ou não?
Quantas quedas, dificuldades, angústias, medos, dúvidas?
É preciso seguir sempre em frente, persistir, lutar e sobretudo acreditar que a felicidade existe algures ;)
gostei deste texto... por momentos ate pensei k fosse d paulo coelho, ms afinal kalinka provou k tb sabe escrever sobre viagens ;)
bj gd***

 
At 28/1/06 02:24, Blogger Kalinka said...

RESPOSTAS:
DIAFRAGMA - Muito obrigado pelo teu simpático comentário.
LENA - Fiquei emocionada ao ler os teus elogios sobre o meu diversificado blog. Muito obrigado.
PITUCHA - É essa a ideia, seguir em frente. Acompanha-me,p.f.
ISABEL F. - Foi mesmo com a intenção de ficarmos a pensar.Beijo
PECISCAS - Tens toda a razão, perdemo-nos nesses enigmáticos caminhos. Obrigado pelo carinho.

 
At 28/1/06 02:32, Blogger Kalinka said...

MOCHO FALANTE - Palavras tão certas as tuas. Beijokas.
TITA - É uma escolha, mas quem não a quer? Todos procuramos por ela.
A. CARLOS - Sim, é um caminho para ir sempre em frente, nunca desistir
ANA - Faço minhas as tuas palavras, estão mais que certas.
J.S. - Bom conselho, vou fazer isso mesmo, seguir a estrada que fica à minha frente! Só que por vezes, alguém nos força a travar!
(percebeu o trocadilho...?)

 
At 28/1/06 13:46, Anonymous Anónimo said...

Faça de conta que sou muito burro e explique-me...por e-mail. Beijocas.

 
At 30/1/06 09:21, Blogger Raquel Vasconcelos said...

Curiosamente também pensei em Paulo Coelho, autor detestado por uns, amado por outros.
Eu gosto dele, nos momentos em que leio texos assim, apagam-se as guerras, as tristezas, o que é menos bonito no mundo... ficam a pairar estas palavras suaves, a busca por algo...
Cada um tem o seu caminho e as escolhas são muitíssimo complexas, mas gostei muito da "paz" :)

Bjs

PS: a música é muito suave também, nem precisei de a "fechar"... :)

 
At 30/1/06 17:26, Blogger Kalinka said...

PATRÍCIA - É isso mesmo, seguir em frente, persistir, lutar e sobretudo acreditar que a felicidade existe algures...para mim, neste momento, a verdadeira felicidade seria ter saúde para viver com qualidade...quando estou inspirada consigo escrever textos lindos, obrigada pelo elogio. Bjs

RAQUEL V - talvez seja por eu ler Paulo Coelho, que este texto se pareça com algum dele, a sério, eu não copiei nada de ninguém! Estas palavras suaves, a busca por algo, fazem sentir-me tão bem...sim, também concordo que esta musica ajuda a ficar em «paz» ao ler o texto. Beijokas e obrigado.
KALINKA

 
At 5/2/06 13:55, Blogger Kalinka said...

Olá Nikaya:
Muito obrigado pela tua 1ª visita aqui ao «meu cantinho» e também pelas palavras elogiosas que fazes ao meu simples, mas sentido «texto».
Concordo que a musica está muito bem para o tema que é...calmo, envolvente.
Espero ver-te por cá mais vezes, e eu também irei começar a visitar-te. Beijokas.

 

Enviar um comentário

<< Home