A pedido de....
Talvez por teimosia minha ou, quem sabe, atrevimento, vou falar mais um pouco deste filme, a pedido do Diafragma e, pelo facto da Isabel Filipe ter mostrado interesse no filme. Acontece Isabel, que este filme já esteve em exibição há alguns anos, não é de agora, talvez em DVD o consigas ver.
Alguns flashbacks poderão ajudar a entender melhor o filme, Diafragma, espero que consiga o que pretendes:
«Mulholland Drive» funciona, desde modo, em dois níveis.
O da forma e o do seu conteúdo. Por um lado, como um sonho, desfilando imagens e sons interligados sem lógica aparente, com uma ligação fugaz à realidade, ao que vivemos durante o dia; por outro, com uma trama “convencional”, adensando-se ao longo de dois terços do filme e com uma resolução não completamente clara. Lynch continua a revelar-se um mestre da manipulação sensorial, um mago da narrativa não-linear, que consegue, como ninguém, levar as câmaras até aos mais obscuros corredores da mente humana.
“Betty” chega a LA e afirma encontrar-se num local de sonho, a câmara deixa-se cair contra o travesseiro e, mais tarde, entramos na crua realidade quando o cowboy afirma explicitamente ser tempo de acordar. Por aqui se poderia concluir que neste segmento está contido o sonho de Diane. Posteriormente, somos confrontados com a realidade: Diane é conduzida numa limusina pela Mulholland Drive (o início da tentativa de homicídio de Camilla), na festa vê uma série de pessoas que assumem papéis diferentes no sonho (o cowboy, a senhoria, na verdade mãe do realizador, a actriz que numa audição assume o nome de Camilla Rhodes, etc.) O realizador também conta, divertido, o facto da mulher o ter trocado pelo homem da piscina, uma cena “dramatizada” por modo a humilhá-lo totalmente. Quando contrata o assassino, Diana vê um livro em cima da mesa, integrado numa cena que mostra um dos seus “trabalhos” anteriores; no café vê o homem que sonha com um monstro nas traseiras; a empregada de mesa chama-se Betty, nome apropriado por Diane no sonho, onde a empregada, por sua vez, se chama Diane, um nome que soa familiar a Rita e que precipita a resolução da investigação; a mala com dinheiro, que aparece na posse da amnésica “Rita”, passa para as mãos do assassino, que diz que entregará uma chave quando o trabalho estiver concluído – a chave abre a caixa azul, que marca o regresso à realidade, com a constatação de que Camilla está morta.
Um dos momentos mais fulgurantes do filme, ocorre quando o circulo ameaça fechar-se precocemente, quando Betty e Rita encontram o cadáver de Diane (isto é, a verdadeira Rita), a qual veremos mais tarde a dormir na mesma posição. Enquanto fantasia, Diane descobre-se a si mesma, sem que, no entanto, tenha ainda consciência desse facto, ao mesmo tempo que é já atormentada pela “solução” final – pôr termo à própria vida.A vizinha de Diane leva um cinzeiro, que estava em cima da mesa da sala, e uma caixa com pratos. Em cima da mesa está uma chave azul. O assassino disse que a entrega da chave representaria a confirmação do serviço contratado, i.e., a morte de Camilla. A vizinha refere que dois detectives voltaram a procurar Diane, o que significa que querem interrogá-la sobre a morte ou talvez tão só sobre o desaparecimento de Camilla. Depois da vizinha sair, Diane prepara um café. Momentos depois, vê Camilla à sua frente - com o vestido que usava na noite em que declarou o final da relação -, mas trata-se de uma alucinação da sua mente debilitada e dura apenas alguns segundos.Antes de Camilla sair, há um flashback dentro do flaskback, que nos leva até ao local da rodagem de um filme, onde vemos como Camilla mantém paralelamente - ou inícia alí - uma relação com Adam Kesher. Também é clara a sua satisfação em fazer Diane sofrer, insistindo para que ela assista ao "ensaio". O seu comportamento durante o jantar, quando "flirta" com Kesher ou com a outra mulher, vem reforçar o sadismo de Camilla. A relação com Adam Kesher poderá ser menos relevante do que se sugere; tanto quanto sabemos pode-se tratar de um simples esquema de Camilla para repelir Diane (sugerem um casamento e, no momento seguinte, ela beija outra mulher) ou parte de um jogo de tortura psicológica que talvez já levasse a cabo no decorrer da relação, e do qual a primeira cena, no estúdio, poderia fazer parte. Tanto Diane como Camilla surgem com personalidades radicalmente diferentes de Betty e Rita, algo muito bem vincado pelo bom trabalho das actrizes, em particular de Naomi Watts.
Ainda no flashback, vemos Diane receber uma chamada para sair para a festa na casa de Adam Kesher. O telefone, o candeeiro vermelho e os cigarros apagados no cinzeiro, são idênticos aos que vemos durante o sonho, no final dos telefonemas em cadeia a informar que “a rapariga” continua desaparecida, indicando a responsabilidade de Diane no destino da desaparecida. O flashback acaba com Diane, sentada no sofá, a olhar para a chave azul em cima da mesa, onde já não se encontra o cinzeiro em forma de piano. Ela está vestida com o roupão branco, sendo assim claro que estamos de volta ao presente.
Assim se pode concluir que o presente narrativo em «Mulholland Dr.» se reduz a duas cenas: quando Diane acorda e quando Diane morre. O “silencio” final assinala a necessidade de enfrentar o mundo real e a responsabilidade pelos actos cometidos.
10 Comments:
Kalinka,
Espero que esteja tudo a correr na melhor maneira contigo!
Obrigado pelo teu conselho cinematografico!
Vou ter em conta na proxima escolha de DVD!
Bjks da matilde
Não conheço o filme.
Mas as tuas descrições são tão completas, que a gente fica com o apetite aguçado.
Espectacular! Conseguiste preencher alguma lacunas que me ficaram deste filme. Curiosamente o único filme que comprei por achar que, de certo modo, e com Saraband, constitui um marco histórico do cinema.
ps: adorei aliás recordar alguns dos truques de filmagem do Twin Peaks
Obrigado Kalinka.
Olá,
Este filme é fantastico!
Uma espécie de Film Noir com muitas cores.
Parabéns pelo blog e bfs :)
Perfeito! Que revista teria que comprar para conhecer tudo aquilo que aqui contas?... Ah, Kalinka!!!
RESP.MIGUEL:
SOBRE A MINHA SAÚDE ESTÁ TUDO ESTACIONÁRIO, VISTO ESTAR CHEIA DE EXAMES PARA FAZER PARA VER O QUE FICOU AFECTADO COM O TAL PROBLEMA GRAVE, daí que não haja notícias por enquanto.
Sobre o filme...eu não entendi lá muito bem, foi um filme complicado de entender, daí que um bloguista me pediu para escrever sobre ele.
Não quero alimentar ilusões, cada um tem o seu gosto pessoal. Beijos à Matilde e Pais. Boa noite.
RESP. PECISCAS:
Muito obrigado pelo elogio no teu comentário. Sempre fui assim, muito descritiva, por vezes até demais.
RESP. DIAFRAGMA:
Ainda bem que consegui algo sobre o que tu pretendias...fico feliz quando posso ser útil para alguém.
Entende-me, não tens que agradecer
RESP. FROG:
Tu é que o dizes...fonte de conhecimentos, concordo, mas também quando não tenho esses conhecimentos vou procurá-los junto de quem me puder ajudar, ou fazendo imensas pesquisas. Beijos.
Beijos.
LUSCO FUSCO:
É a 1ª vez que visitas o «meu cantinho», agradeço-te.
Caso tenhas gostado, podes continuar a vir de quando em vez, dar uma espreitadela.
Dizes que o filme é fantástico...deves ter ido ver!!!
Obrigado pelos Parabéns (pelo blog) e também te desejo um bfs. Até breve.
RESP. AMARAL:
Oh, meu Amigo, leio muito sobre cinema, uma das revistas que vejo com frequência é a «Premiére Magazine», entre outras tantas.
Mas, tu tens outro tipo de conhecimentos que eu gostaria de ter, cada qual está virado para uma vertente.
Obrigado pela tua visita.
Beijokas e bfs.
despertaste a minha curiosidade e vou mesmo ter que o ver, os teus conhecimentos sobre cinema são perfeitos
beijinhos meus
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